Descendente de Jeronimo de Albuquerque Maranhão, desembargador fala da importância histórica e convida para evento na AMAPAR

Rômulo Cardoso Quinta, 11 Outubro 2018

Descendente de Jeronimo de Albuquerque Maranhão, desembargador fala da importância histórica e convida para evento na AMAPAR

 

Reconhecido como primeiro comandante naval do Brasil e conquistador do Maranhão, no ano de 1614, o mameluco Jeronimo de Albuquerque Maranhão receberá homenagem e resgate histórico de seus maiores feitos em evento na sede da AMAPAR, em Curitiba, no dia 26 de outubro.

 

Nada melhor do que um de seus descendentes para falar do mameluco, que foi líder junto à comunidade indígena e lutou em defesa de São Luís do Maranhão contra um efetivo francês três vezes maior que seu pelotão.

 

“Em virtude desse feito militar, Jeronimo de Albuquerque fez acrescentar ao seu patronímico o agnome “Maranhão", para perpetuar esse fato histórico entre os seus descendentes, como relata Sérgio Buarque de Holanda no volume um da obra História da Civilização Brasileira”, comenta o desembargador do TJ-PR, Clayton de Albuquerque Maranhão, que está na décima primeira geração de descendência do famoso mameluco, ao conceder entrevista à assessoria de imprensa da AMAPAR.

 

A mesa redonda na AMAPAR acontece dia 26 de outubro, a partir das 18h30, com entrada gratuita.

 

Confira abaixo a entrevista.

 

Caro desembargador Clayton de Albuquerque Maranhão, ao consultar a internet e passar o olho rapidamente pela história, por meio de pesquisas na web, nota-se uma biografia riquíssima do histórico Jeronimo de Albuquerque Maranhão. Ele pode ser considerado um dos mais importantes brasileiros de todos os tempos no âmbito histórico, de conquistas e também pela ascendência indígena?

 

Jeronimo de Albuquerque Maranhão, mameluco nascido em Olinda/PE, no ano de 1548, é uma figura histórica importante no contexto da civilização luso-ameríndia. Filho do português Jeronimo de Albuquerque com a índia Muira Ubi, depois batizada Maria do Espírito Santo Arco Verde, teve protagonismo na defesa do espaço territorial brasileiro contra invasores franceses e holandeses no período colonial e do ciclo do açúcar. Jeronimo era um líder junto à comunidade indígena, e por ser sobrinho do primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, recebia de Gaspar de Souza, Governador Geral do Brasil, as missões e ordens emanadas de El Rei de Portugal, dentre elas, a defesa da Ilha de São Luis do Maranhão, então ocupada pelos invasores franceses, originando a Batalha de Guaxenduba, entre 1613 e 1614, quando o pelotão de Jeronimo era três vezes inferior ao efetivo francês invasor.

 

Contudo, mediante manobras simultâneas realizadas por pouco mais de setecentos de soldados em terra e pelo mar, mediante flotilha de sete embarcações, Jeronimo de Albuquerque, o mameluco, firmou armistício de um ano com o Senhor Ravardière, quando os franceses se retiraram da Ilha de São Luis, vindo a fundar, mais adiante, o que hoje conhecemos por Guiana Francesa.

 

Em virtude desse feito militar, Jeronimo de Albuquerque fez acrescentar ao seu patronímico o agnome "Maranhão", para perpetuar esse fato histórico entre os seus descendentes, como relata Sérgio Buarque de Holanda no volume um da obra História da Civilização Brasileira. A Marinha recentemente inaugurou dois bustos de Jeronimo de Albuquerque Maranhão, um na cidade do Recife e outro no município de Icatu, Estado do Maranhão. Diante desse fato, Jeronimo de Albuquerque Maranhão é reconhecido pela Marinha como o primeiro comandante naval do Brasil. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos promoveu a obliteração e lançamento do selo comemorativo aos 400 anos da Batalha de Guaxenduba, retratando a flotilha por ele comandada.

 

Como convite aos associados da AMAPAR e comunidade, o que o senhor pode adiantar sobre o evento?

 

Trata-se de um evento cultural aberto ao público, promovido pela Amapar em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, com o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e com a Marinha do Brasil, objetivando propagar esse importante fato histórico brasileiro.

 

Haverá duas palestras, uma proferida pela Professora Maria de Lourdes Lauand Lacroix, a partir de livro por ela publicado sobre Jeronimo de Albuquerque Maranhão; a outra palestra será proferida por uma das maiores autoridades em genealogia no Brasil, o Professor Paulo Fernando de Albuquerque Maranhão, décimo descendente direto do mameluco homenageado.

 

O senhor tem o mesmo sobrenome do histórico conquistador. Qual a relação e como a família celebra a memória do referencial membro?

 

Estou na décima primeira geração da descendência direta de Jeronimo de Albuquerque Maranhão. Na juventude, cresci ouvindo passagens históricas de Jeronimo de Albuquerque Maranhão, sobretudo de minha tia-avó Zuleika Maranhão Fernandes, filha do Major do Exército Imperial José Pinheiro de Albuquerque Maranhão, potiguar que viera para o Paraná nos idos de 1915, por conta da guerra do Contestado, onde atuou ainda como Alferes. Foi por intermédio dela que tive acesso ao livro A Casa de Cunhaú, situada numa região próxima de Natal, um dos mais importantes engenhos de açúcar do Nordeste, e que ficou sob domínio da Família Albuquerque Maranhão por aproximadamente trezentos anos. É na capela desse engenho que Jeronimo de Albuquerque Maranhão se encontra inumado. Há aproximadamente vinte anos, a Capela foi tombada pelo patrimônio histórico do Rio Grande do Norte.

 

Como a família Albuquerque Maranhão é imensa, a Casa de Cunhaú e Jeronimo de Albuquerque Maranhão acaba sendo o ponto de referência para todos os primos que tem grau de parentesco distante. Para que se tenha ideia, somente no Estado do Paraná há três estirpes dos Albuquerque Maranhão. Além do meu bisavô José Pinheiro de Albuquerque Maranhão, acima mencionado, temos as figuras do desembargador Luis de Albuquerque Maranhão e de João Malta de Albuquerque Maranhão, todos primos chegados no Paraná no início do século XX, deixando larga descendência, inclusive magistrados do nosso tribunal.

 

Dentre eles, a desembargadora Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes, os desembargadores Guilherme de Albuquerque Maranhão e Carlos Vitor Maranhão de Loyola, e os juízes de direito Luis de Albuquerque Maranhão Filho e César Maranhão de Loyola Furtado. Registre-se ainda os Procuradores de Justiça Jerônimo de Albuquerque Maranhão, Silvio de Albuquerque Maranhão, Ricardo Pires de Albuquerque Maranhão e o promotor de Justiça Guilherme de Albuquerque Maranhão Sobrinho. Há, também, os advogados Mauro João Sales de Albuquerque Maranhão Laertes Maranhão, Fernando Wilson Rocha Maranhão, Edigardo Maranhão Soares, Robison Maranhão, Deise Maranhão Gubert, João Paulo Bettega de Albuquerque Maranhão, só para citar alguns militantes do foro central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.

 

Além de atuar como desembargador do TJ-PR, o senhor participa intensamente do ambiente acadêmico. Sendo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), culto e referência na área do Processo Civil, qual avaliação faz do descaso, principalmente da administração pública, com a história brasileira, sendo impossível não atrelar ao lamentável episódio do Museu Nacional ?

 

O calcinamento de parte relevante da nossa história no período do Império é sinal da burocracia e do descaso com a nossa própria identidade nacional. Que esse triste evento possa servir de alerta para que não mais se repita em relação a outros monumentos históricos da nação brasileira. Cabe a todos e a cada um de nós a busca de medidas que possam prevenir esse tipo de circunstância.

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