Desembargador Antônio Loyola fala à AMAPAR sobre 50 anos de Judiciário, relação com o Executivo e eleições da cúpula

Rômulo Cardoso Quarta, 20 Junho 2018

Desembargador Antônio Loyola fala à AMAPAR sobre 50 anos de Judiciário, relação com o Executivo e eleições da cúpula

Atual integrante da 1ª câmara criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), o desembargador Antônio Loyola Vieira tem grande parte da biografia, não apenas como magistrado, dedicada ao Poder Judiciário. Também sempre manteve estreita relação com os demais poderes, embora alguns capítulos tenham linhas escritas na área esportiva, mais especificamente na preparação física.

 

Soa estranho? Talvez, mas o próprio magistrado contou fatos “extrajurídicos” durante entrevista dedicada à assessoria de imprensa da AMAPAR, ao repassar fatos dos 50 anos de bons serviços prestados ao Judiciário, não apenas na esfera processual, enfim, com decisões judiciais e o cotidiano das sessões de julgamentos.

 

O desembargador Loyola, como é conhecido entre seus pares e na comunidade jurídica, ou “Toninho Loyola”, para os ainda mais íntimos, falou um pouco de sua trajetória no TJ-PR e que também percorreu corredores e gabinetes dos principais endereços públicos do Centro Cívico, em Curitiba, nos bastidores e tratativas de interesse do Tribunal. 

 

CONSELHOS E A CARREIRA

 

Os 50 anos do desembargador Antônio Loyola Vieira no Judiciário paranaense, por óbvio, iniciados em junho de 1968, teve ponto de partida com a nomeação, pelo então presidente do TJ-PR, Francisco de Paula Xavier, para o exercício de funções na secretaria da instituição. Trabalho totalmente burocrático, com máquina de datilografia e de protocolo manual, sem qualquer similaridade com os tempos atuais, como são os sistemas SEI, Mensageiro e o próprio Projudi.

 

“Totalmente diferente”, lembra Loyola, ao explicar o início de suas atividades. Na sequência, o então servidor passou a atuar como auxiliar judiciário e, paralelamente, iniciou a faculdade de Direito, com o consequente cargo de assessor jurídico. Nunca exerceu a advocacia ou outro cargo jurídico fora do TJ.

 

A magistratura foi despertada na vida de Loyola depois dos conselhos dados pelo sogro e pela esposa, além de seguir os passos do avô. “Eu fiz o concurso e graças a Deus me dei bem”, brinca o magistrado, que iniciou a carreira em 1989.

 

Começou como substituto na sessão judiciária de Apucarana. Quando nomeado juiz de Direito, passou por Quedas do Iguaçu, foi removido a Mallet e promovido, no ano de 1992, para São José dos Pinhais, na área criminal.

 

Já em Curitiba, também atuou em varas criminais e foi juiz auxiliar dos presidentes Cláudio Nunes do Nascimento e Henrique Lenz Cesar. Promovido como juiz substituto de 2º grau no ano de 2002, Loyola chegou ao posto de desembargador no ano de 2008. Passou pela 12ª Câmara Cível e desde o ano de 2012 integra a 1ª Câmara Criminal. Não é segredo, portanto, que a área criminal sempre foi a preferida, além do carinho especial pela atual câmara. “Espero ficar até me mandarem embora”, ri, ao comentar sobre a aposentadoria compulsória, que chegará em 2021, quando completará 75 anos de idade.

 

PODERES

 

Antes mesmo de vestir a toga, a política do bom relacionamento institucional entre os Poderes já estava presente na vida de Loyola. Começou aos poucos, quando foi cedido pelo TJ-PR para exercer atividades administrativas na prefeitura municipal de Curitiba, na gestão do então prefeito Saul Raiz, no final da década de 1970.

 

Esteve em contato permanente com grandes personalidades da política paranaense. Exerceu funções estratégicas para garantir melhorias ao Judiciário, no diálogo permanente com o Executivo – municipal e estadual. Ficou à disposição do governador Ney Braga para questões relativas TJ-PR. “A minha função era o contato permanente com o Tribunal. Sempre que o Tribunal precisava de algo, ou algum magistrado, eu era contatado. Fazia o atendimento no que precisava. A parte mais burocrática era eu quem fazia”, conta.

 

A boa relação com políticos não é segredo para Loyola, como a proximidade que manteve com o deputado Aníbal Khury, inclusive nas reuniões para garantir o repasse orçamentário destinado anualmente aos planejamentos e investimentos do TJ. “O deputado Aníbal Khury sempre foi um grande amigo do Judiciário”, lembra.

 

Ao ser indagado sobre a recorrente preocupação da dotação orçamentária, Loyola relata que a relação “Judiciário e Executivo” foi tranquila ao longo da história, “na maioria das vezes”. Desde os tempos do governador Jaime Canet e depois com Ney Braga, quando esteve dedicado oficialmente às tratativas com o Executivo. Sobre os governadores mais recentes, o desembargador relata a relação “afável” com Jaime Lerner e até com o agora ex-governador Beto Richa, mas com algumas “interferências”, embora na gestão atual do TJ-PR a tranquilidade tenha “reinado”, afirma. Sobre Roberto Requião, que exerceu três mandatos no Governo, nenhum comentário.

 

A aproximação que nutriu junto aos governadores e dirigentes do TJ, enfim, com o poder, nunca seduziu o desembargador Antônio Loyola a se candidatar a cargos na cúpula diretiva. “Não, nunca quis”. Comenta que não tem condições nem de ir para o TRE-PR, como corregedor ou presidente, devido à amizade que tem com muito políticos. “Teria que me declarar impedido em tudo”, explica.

 

“Prefiro ficar quieto, gosto muito da 1ª câmara criminal, pois é um ambiente muito bom. Vou ver se consigo ficar até os 75, não é? É o que eu pretendo”, afirma.

 

As eleições se aproximam no TJ-PR e Antônio Loyola opina sobre como deve ser o perfil do presidente. O segredo está no bom relacionamento. “Se você não tiver um bom relacionamento e for querer brigar com todo mundo, não resolve nada. O presidente deve estar voltado, também, para os interesses dos magistrados e dos funcionários, de um modo geral, com melhorias nas condições de trabalho. Sentimos uma evolução e essa continuidade deve ser dada”, aponta.

 

Sobre o perfil do mandatário no TJ, o desembargador pontua que o presidente do TJ deve incorporar a condição de chefe de poder. “Quando você assume a cadeira de presidente, você tira a toga de juiz e veste a roupa de um chefe de poder. O relacionamento do presidente do TJ tem que ser de igual para o igual com o presidente da Assembleia Legislativa e com o governador do Estado. Nem mais e nem menos. Se ocorrer isso, o presidente vai fazer uma gestão com a maior tranquilidade”, ressalta.

 

ESPORTE 

 

Antes de encerrar a conversa, Loyola revela, finalmente, a veia esportiva comentada no início desta entrevista. Enquanto servidor do TJ-PR, o desembargador foi preparador físico do Coritiba, seu time do coração. Foi jogador de basquete ao lado de outros magistrados, como os também desembargadores Paulo Hapner e Ronald Moro. 

 

“Trabalhei como preparador físico por sete anos no Coritiba e também no Colorado, durante os anos de 1971 a 1976. À noite fazia a faculdade de direito. Mantenho a amizade com o pessoal do futebol até hoje. Futebol me ajudou muito na carreira. Muita coisa que aprendi no futebol, na convivência, com os atletas e dirigentes, realmente, o futebol me ajudou muito na carreira. Foi uma área de inspiração”, finaliza.

bemapbjudibamb403069308 jusprevlogo