Juiz Carlos Mattioli fala do novo projeto “Fábrica de oportunidades” em entrevista à AMAPAR

Rômulo Cardoso Sexta, 10 Maio 2019

Juiz Carlos Mattioli fala do novo projeto “Fábrica de oportunidades” em entrevista à AMAPAR

Com notória reputação frente aos jurisdicionados de União da Vitória, o juiz Carlos Mattioli lançou o novo projeto “Fábrica de Oportunidades”. A iniciativa busca a inclusão de adolescentes e jovens em capacitações e preparo para o mercado de trabalho, com a orientação vocacional, ensinamentos para o preparo do currículo, como se portar em uma entrevista de emprego e mesmo dentro do local de trabalho, como o magistrado esclarece.

 

Na entrevista a seguir, concedida à AMAPAR, Mattioli conta mais detalhes do projeto e do apoio à comunidade de União da Vitória e das cidades circunvizinhas. Confira !

 

AMAPAR - Dr. Carlos, como nasceu a ideia para o Fábrica de Oportunidades e o projeto terá qual propósito ? Qual a estrutura ?

 

Carlos Mattioli - No atendimento cotidiano dos adolescentes em situação de vulnerabilidade, seja na seara infracional, nos processos de medidas de proteção, ou mesmo junto ao projeto de Combate à Evasão Escolar, temos sentido que entre o público com maior dificuldade de acesso a serviços públicos e de promoção social há um interesse muito grande em buscar a profissionalização, assim como a participação em atividades culturais e esportivas.

 

Infelizmente os seis Municípios que são atendidos pelo Judiciário de União da Vitória têm dificuldade estrutural e orçamentária muito grande em promover programas que atendam a estas demandas. Daí surgiu a ideia, por meio do Centro de Cidadania do Fórum, de promover a articulação de caminhos que abram as portas para os jovens, por meio de parcerias com o Poder Público, também a comunidade local, especialmente os empresários e comerciantes.

 

O Fábrica de Oportunidades busca portanto a inclusão de adolescentes e jovens em capacitações que os preparem para o mercado de trabalho, com a orientação vocacional, ensinamentos para o preparo do currículo, como se portar em uma entrevista de emprego e mesmo dentro do local de trabalho. Com os empresários se busca a viabilização de contração no formato jovem aprendiz quando do ainda não preenchimento da quota mínima prevista em lei, também para empresas que não tenham essa demanda legal, incentivando a contratação, que será acompanhada pelo Judiciário por meio do CEJUSC, com suporte multidisciplinar ao adolescente e jovem, também ao seu núcleo familiar, verificação da manutenção da frequência e bom desempenho escolar, entre outras questões. Paralelamente a isso o programa incentiva a participação de empresários e órgãos públicos locais, também amparados pelo CEJUSC, para abertura de espaço para atividades esportivas, culturais e artísticas, sem qualquer custo aos participantes.

 

AMAPAR - Como o senhor tem buscado apoio do setor empresarial, existe muita resistência ?

 

Carlos Mattioli - Mais que a resistência há um desconhecimento das vantagens de contar com a participação destes jovens e adolescentes em suas equipes, todos com grande motivação. O CEJUSC busca essencialmente viabilizar os céleres encaminhamentos, e também incrementar o compromisso social do meio empresarial, que reflete fortemente na redução de práticas delituosas e situações de risco junto ao público vulnerável, causando reflexos positivos à toda a comunidade local.

 

AMAPAR - E hoje, qual avaliação o senhor faz do perfil populacional de União da Vitória e região ? Do setor educacional, mazelas, mas, também, da participação da comunidade ?

 

Carlos Mattioli - Especialmente em época de prolongada crise econômica no país União da Vitória e região ainda possui índices de desenvolvimento humano muito aquém do desejado. Com o trabalho contínuo de mais de uma década de profunda parceria do Judiciário local com a rede de educação já se atingiram por outro lado índices de presença e qualidade de aproveitamento escolar em níveis muito melhores que a média do Estado do Paraná, sendo possível ora ao setor de Cidadania da Justiça trabalhar com outras demandas, que refletem diretamente na melhora da qualidade de vida não apenas das famílias que possuem maior carência socioeconômica, mas também de toda a sociedade da região.

 

Entendo que é papel do Poder Judiciário hodierno, paralelamente ao trabalho com os processos judiciais, articular maior participação da comunidade, não apenas qualificando os serviços judiciários tradicionalmente prestados, mas também essencialmente possibilitando por outros meios de atuação contribuir de forma bastante significativa para o desenvolvimento social coletivo.

 

AMAPAR - Já fiz pergunta similar ao senhor, mas a sua participação na comunidade, não apenas na condição de autoridade judicial, tem sido destacável. Os anos passam e o senhor parece aumentar o vínculo com a comarca de União da Vitória. Existe muita resistência em sair da cidade, de pedir remoção, atuar na capital ou em outro polo ?

 

Carlos Mattioli - O vínculo com a comunidade, com os demais Poderes, com entidades e o meio empresarial, tem possibilitado um trabalho com resultados bastante destacados felizmente. Em que pese não seja ainda um formato tão comum de promoção das atividades judiciárias, entendo que não apenas em razão da recomendação administrativa decorrente da política pública de Poder Judiciário preconizada pelo Conselho Nacional de Justiça, mas também da necessidade da Justiça se adaptar aos novos tempos e à célere transformação da sociedade e atuais demandas dos jurisdicionados, é dever dos magistrados e demais integrantes do Judiciário compreender que essa transformação é um caminho sem volta, e de via única, a ser replicado urgentemente.

 

O trabalho em União da Vitória ainda possui um campo muito extenso de desenvolvimento, com muitas demandas ainda não atendidas de forma qualificada, e por isso não tenho qualquer ideação de mudança de Comarca. Mesmo com a existência ainda de inúmeras dificuldades estruturais, número de servidores muito aquém do desejável, e outros problemas notórios que enfrentamos no cotidiano, há grande motivação para a continuidade do trabalho não somente de minha parte, mas de toda equipe, dos parceiros, além da forte repercussão positiva e aceitação de nossas propostas, que nos impulsiona e instiga, antevendo ainda um longo período de trabalho pela frente.

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