Juiz Carlos Mattioli recebe homenagem e fala à AMAPAR sobre os 16 anos de atuação em União da Vitória

Rômulo Cardoso Quarta, 02 Junho 2021

Juiz Carlos Mattioli recebe homenagem e fala à AMAPAR sobre os 16 anos de atuação em União da Vitória

Juiz em União da Vitória, Carlos Eduardo Mattioli Kockanny recebeu recentemente uma homenagem singular da equipe de trabalho, motivada pelos 16 anos dedicados àquela comarca.

 

Para falar um pouco da motivação para a homenagem e também sobre a dedicação aos jurisdicionados de União da Vitória e região, o magistrado concedeu uma entrevista à AMAPAR. Na conversa ressaltou todo o trabalho, comprometimento e amizade estabelecida com a equipe e a opção pela vida no Interior, com ganhos na qualidade de vida e na segurança, como relatou. Também falou dos vários projetos que conduz com maestria em União da Vitória. Já são 35 os projetos de cidadania, marca realmente expressiva. Confira abaixo a entrevista. 

 

Dr., depois de 16 anos e com forte vínculo junto à comunidade de União da Vitória e região, o senhor recebeu uma homenagem muito especial. O quanto significa tal reconhecimento para a biografia de um magistrado ?

 

Carlos Mattioli - Das homenagens e premiações recebidas certamente esta preparada pela própria equipe foi das mais marcantes, com significado muito sensível, por diversos motivos. Na gestão de pessoas que elaboramos para toda equipe as confraternizações antes da pandemia tinham um papel muito especial. Além dos propósitos de gestão que os encontros além do trabalho proporcionam, tal como a aproximação com pessoas de setores diversos da vara judicial, a possibilidade de tratar de assuntos outros que não o trabalho, o melhor conhecer os parceiros de cotidiano, que causam melhora no clima organizacional, nós sempre investimos muito no reconhecimento dos colaboradores, na recepção de quem é mais recém-chegado na equipe, e especialmente também no engajamento do grupo e na valoração de todos, na motivação e satisfação coletiva pelo trabalho conosco.

 

 

A pandemia tirou muito isso, na medida que apenas reuniões virtuais não promovem nem de longe o que se permite nos encontros pessoais. Esta homenagem agora é referente aos 15 anos de comarca que completei no ano passado, quando pensávamos a organização de grande confraternização de equipe para comemorar meu tempo aqui em União da Vitória, o que ficou para trás com a pandemia. Impossibilitada sua realização já se pensava em fazer algo ainda mais significativo no pós-pandemia, já que ninguém imaginava que um ano após estaríamos em situação de saúde ainda pior.

 

E assim surgiu a ideia da equipe de preparar algo de surpresa, com vídeo de mensagem de todos da equipe, leitura de uma sentença elaborada para o ato, homenagem com uma placa comemorativa, enfim, um ato singelo, sem a reunião de pessoas em razão da pandemia, mas com transmissão ao vivo para a equipe, um momento muito emotivo e marcante, porque significa não apenas uma “comemoração” de meu tempo de comarca, mas também a valoração do trabalho de todos, a manifestação de satisfação coletiva pelo que estamos conseguindo produzir como prestação de serviço judiciário em União da Vitória.

 

E a "opção pelo interior", como foi sendo construída ?

 

Carlos Mattioli - O interior de Paraná, especialmente cidades médias como União da Vitória, possibilitam incremento de qualidade de vida em face da menor violência, inexistência de congestionamentos e grande tempo de deslocamentos em veículos, assim por consequência menos correria e menos estresse. Tudo está mais perto e mais fácil, o tempo desloca um pouco mais devagar, e certamente isso reflete no bem-estar mental e psicológico.

 

Particularmente quanto ao trabalho a especialização da vara e sua não divisão com outras varas similares traz concentração e exclusividade do trato das matérias, possibilitando articular política pública de atendimento destas matérias com planejamento de longo prazo. Com muito investimento e inovações, sem esperar resultados imediatos, ainda que hora ou outra eles possam vir mais rapidamente.

 

Especialmente nas áreas da família e criança e adolescente, há um mar de possibilidades, quase todas elas ligadas a um trato e olhar mais empático e de alteridade, além dos percursos tradicionais da judicialização, mas que demandam perseverança e resiliência, para mudar uma cultura coletiva, inclusive no meio judiciário, de litígio, pouco resultado e desesperança. E assim trabalhando ao longo dos primeiros anos, quando pensaria em seguir adiante já estava tão tomado e envolvido com a mudança de forma de ver e agir como judiciário, que não mais cogitei sair daqui.

 

O senhor é um magistrado idealista, inegavelmente. Como surgem as inspirações para tantos projetos de grande impacto, positivo, na comunidade ?

Carlos Mattioli - A inspiração advém do incômodo em constatar todos os dias a pouca efetividade de muitas decisões judiciais, não quanto ao eventual descumprimento apenas, mas também em relação à incompreensão de boa parte do público atendido, e mesmo dos reais anseios daqueles que procuram o atendimento judiciário. Exemplificando, muitas vezes quem divorcia litigiosamente não busca especificamente a resolução da questão de pensão alimentícia para os filhos ou a partilha de bens, mas sim estender o desenlace tumultuado da convivência que não funcionou, ou exteriorizar a decepção por uma traição, a mágoa pelo insucesso, entre outros sentimentos humanos absolutamente naturais, mas via de regra não cuidados pelo sistema de justiça.

 

Da mesma forma a ideação e a busca por inovações se apega ao novo formato de Justiça conforme preconizado pelo plano estratégico de Poder Judiciário, em que se fomenta o trato preventivo, a aproximação com a sociedade, a formação de relações institucionais com o poder público, o meio empresarial e a comunidade, o olhar mais individualizado e empático, a avaliação multidisciplinar dos casos atendidos, a promoção de medidas outras como alternativas à sentença, enfim, tudo aquilo que já fazíamos desde o advento do projeto de Combate à Evasão Escolar há mais de uma década hoje está normatizado, e faz parte da linha condutora do Judiciário hodierno.

 

Com o advento do sistema Cejusc foi possível impulsionar nossas práticas. Em várias áreas de trabalho nossos 35 projetos de cidadania promoveram profundas transformações sociais e coletivas na região. E num olhar hoje desse trajeto todo percorrido, respondendo sua pergunta, é possível concluir que as respostas são tão simples, estão quase sempre em nossa frente, em que pese muitas vezes sonegadas por nossa altivez. Quase tudo se resume ao cuidado qualificado, ao espaço para escuta dos envolvidos, à compreensão da realidade individual de cada pessoa atendida.

 

E à pandemia, como o senhor tem se adaptado ?

Carlos Mattioli - Quase a totalidade de nossos projetos foi adaptada e continua funcionando mesmo com a pandemia, de forma virtual. Mesmo aqueles que preveem encontros em grupos ou abordagens coletivas, seguimos trabalhando com as adequações necessárias. Com exceção das práticas que previam a presença pessoal e a estruturação de serviços nas comunidades, todos os demais continuam funcionando.

 

Ainda estruturamos novas formas e viés de atendimento em razão dos efeitos da pandemia na vida e na saúde mental das pessoas. Uma das práticas que nominamos RAC – Rede de Ajuda Cejusc/Coronavírus acolheu pedido de socorro de mais de 1000 pessoas exclusivamente no atendimento virtual.

 

Muitas situações relatadas são de violência doméstica, violência contra crianças, abuso de álcool, brigas entre vizinhos, em que foi executado trabalho de prevenção à judicialização, antes do agravamento dos problemas trazidos.

 

Enfim, enquanto se verifica que nem mesmo a vacina por si só tem trazido a tão esperada passagem da pandemia e a volta da vida com segurança, me parece que vale a reflexão no sentido de que a vacina que salvará a todos, as mudanças que esperamos (e a analogia vale também para os crônicos problemas do Poder Judiciário), é o próprio ser humano, e sua mudança de comportamento.

 

 

 

 

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