Juíza Sígret Vianna faz relato emocional ao acompanhar in loco um projeto de cidadania na região da Amazônia

Rômulo Cardoso Quarta, 04 Setembro 2019

Juíza Sígret Vianna faz relato emocional ao acompanhar in loco um projeto de cidadania na região da Amazônia

Juíza Sígret Vianna (terceira da esquerda para a direita): Sigo na minha velha máxima de que "o Universo tem seus próprios planos". 

 

Juíza no Paraná, Sígret Vianna participou de uma verdadeira aventura no final do mês de agosto deste ano, com o propósito colaborativo de levar cidadania às populações ribeirinhas, no estado do Amapá.

 

“Uma verdadeira jornada fluvial na Amazônia”, como descreveu a magistrada, ao relatar a experiência singular que agora está sedimentada em uma carta de agradecimento. Além de praticamente atravessar o País até chegar à região Norte, Sígret percorreu de barco um trajeto de 12 horas pelo majestoso Rio Amazonas, até alcançar o Arquipélago do Bailique.

 

Lá não fugiu à regra vocacional e acompanhou a 136ª Jornada Fluvial do Programa Justiça Itinerante, que ocorreu na Vila Progresso e é idealizada pela desembargadora Sueli Pini.

 

Segundo descreveu Sígret, uma “pessoa sensacional, de alma e coração grandiosos, e que leva cidadania a um povo que não tem acesso a quase nada, mas que traz enraizado em si uma generosidade incrível”, contou.

 

Ao lado de colegas de toga, promotores, defensores públicos, servidores e demais colaboradores, Sígret acompanhou o cadastro dos moradores aos programas sociais disponíveis, estudos de conselheiros tutelares e assistentes sociais, orientações de saúde, cursos de mediação e conciliação.

 

Na oportunidade também foi realizada uma campanha de arrecadação de roupas e brinquedos. “Muito mais que engrandecimento profissional, esta itinerância me permitiu o crescimento pessoal”, relatou na carta.

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CONTRASTES

 

Sigret conta que foi possível, ainda, conhecer uma realidade bem diferente da encontrada em outras regiões do Brasil, desde a atenção destinada à população em serviços essenciais como saneamento básico. “A dificuldade de acesso a qualquer serviço elementar me mostrou que há muito a se fazer enquanto cidadão. O que se verifica em localidades como a visitada é que a presença do Estado está muito aquém da que se espera. Não há tratamento de água suficiente à população”, relata.

 

Na região amazônica em que esteve, a magistrada observou a existência de apenas um posto de saúde, embora médicos, dentistas, enfermeiros e técnicos se desdobrem para fazer o seu melhor, com as poucas condições de que dispõem. Não há energia elétrica adequada, sendo frequentes as quedas de luz.

 

"Que prejudicam não só o dia a dia dos moradores (muitos eletrodomésticos queimam), mas também a escolaridade (há computadores que não podem ser usados) e a saúde pública (não há como armazenar soros e vacinas)", apontou.

 

Há duas escolas na região visitada pela magistrada, uma estadual e outra municipal que atendem às crianças da ilha e de outras do arquipélago, cujo transporte escolar não é feito em vans ou ônibus escolares. Barcos e lanchas são os meios de aproximação à educação.

 

“As escolas são impecáveis e chamaram minha atenção pelo zelo e capricho com que seus diretores as mantém. Enfim, apesar da presença bastante restrita do Estado, o que se viveu naquele lugar foi um calor humano reconfortante”, comenta.

 

Ainda ao relatar sobre a equipe de itinerância, Sígret não economiza elogios. “São pessoas que se doam, que saem do conforto dos seus lares e passam 5 dias dormindo em redes num barco e trabalhando incansavelmente para fazer com que a Justiça e a dignidade se façam um pouco presentes àquela população. Conheci pessoas incríveis, que ficarão no meu coração e memória para sempre”, afirma a magistrada.

 

ACIDENTE E A GENEROSIDADE AMAZÔNICA

 

Embora tenha sofrido um pequeno acidente, com a ruptura do tendão de aquiles, Sígret não perdeu o espírito de aventura. Em razão da gravidade da lesão e da pouca estrutura local - apesar do pronto e eficiente atendimento, como mencionou – , precisou chegar à terra firme, mas foi brindada com um sobrevoo de helicóptero sobre a Amazônia e fez questão de externar agradecimentos.

 

“Descobri que apenas pessoas ímpares abdicam do seu para fazer pelo outro, pelo povo desconhecido, por uma curitibana desconhecida e curiosa que estava lá pra viver uma realidade distante da sua. Só seres generosos são capazes de dar amor sem receber nada em troca, além de gratidão”, enfatizou.

 

Como ela resume, voltou com uma cirurgia na mala, uma bota de gesso por 60 dias, mas com o coração repleto de gratidão, de amor e de orgulho no ser humano.

 

“Estou certa de que sempre estou na hora certa e no lugar certo e que tudo o que acontece tem uma razão de ser. Sigo na minha velha máxima de que ‘o Universo tem seus próprios planos’”, finalizou.

 

Clique aqui para ler a carta na íntegra.

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